quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Defuntos da Minha Terra

Fecha-se a cortina da vida
Na festança de gritos da dor dilacerante
Em que deuses chamam a alma ao céu
O corpo esperado pela terra esfomeada
E o espírito de regresso vivo aos olhos dos que restam
Que navegam em ondas bravas de lágrimas doloridas
Na penumbra melancólica de ressuscitar o defunto da minha terra

Na minha terra
Defuntos voam no voo do avião
Ou na boleia do rasgar das quatro rodas
Despedaçando milhar de quilómetros
Atrás da terra que lhes viu nascer
Apenas para serem feitos estrumes…
Na longa distância dos que restam
E dessa campa cimentada pelo abandono…

E na fúria de abandono
Destapam a manta da urna
Violam a corrente da morte
E invadem a privacidade dos vivos
Que se tornam escravos escravizados
Pelos defuntos da minha terra

Na minha terra
Defuntos vivem em mansões
Agasalham-se em sedas e veludos
Nas cerimoniais em que os vivos
Engrossam -lhes de sangue de animais…
Empanturra-lhes de xima e carnes…
De fumaças tabagistas
Em reconciliações recomendas pelos juízes ossículos
Na tremenda convivência entre os vivos e os mortos

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