sábado, 30 de julho de 2011

Minha Identificação (1)

Não tenho outro nome
para além de Cadáver Ambulante Sofrimento,
filho de Nascimento Rejeitado Orfão
e de Abandonada Rejeitada Pos Ventre.
Sou de Nacionalidade Pobreziana
Vivo na cidade das Batalhas, entre as esquinas
das avenidas Labirinto e Vazio, perto do Supermercado Bocaria
onde passo algumas horas a fazer compras...
Trabalho na Empresa Mendicidade desde a Infância.

Meu sonho é ter a vossa Nacionalidade
E um País que me aceite mesmo sem meus progenitores,
porque agora a minha manta rasga-se diariamente
depois de cada golpe da tempestade de vossos discursos de utpoia,
meu estômago ronca em cada refeição de vossas palavras
e o pior, é o meu tecto que desaba sempre que erguem
a primeira pedra no poder da arquitectura dessas hipocrisias...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Lágrimas da Mãe Africana

Mãe chora
Mundo estremece
Terra negra seca
Sofrimento - a estrada da dor
Sem sinalização competente
Potente de violência de povos inocentes
Que torna mundo insuportável
Até de chamar mundo de uma civilização
Civilizada de bandos de mariginais
Adornados de banhos de sangue
inundando estradas sem alcatrão
No discurso de poder a tiroteio
Corpos detoirando na marcha da vida
Sem vida, polidos de luto
Que mãe chora
Terra seca
E mundo estremece
De tantos males
Que amalam a humanidade
Sem humidade sequer para sobrevivência
Neste reino de espiritos
E deuses sociais e políticos
Em que a única festa de milagre existente
É a dor e sofrimento
Que deixam mãe em banho de lágrimas
Nesta selva da humanidade...
Ohhh, não, mae!
Tua costela tela de mistérios
Rios da tua nascente,
Afluentes de ti
Que desconheces o seu fim
Para além deste fim sem sinalização...
Que te comove limpando as lágrimas
Com o luto ainda a carregar de luto...

Inhambane, 18.03.11

sábado, 2 de julho de 2011

Mil Ausências de Mil Filhos

Ohhh! Minha Mãe de mil filhos
nesta planície de mil fendas abertas
e mil dores presentes, mil solidão em marcha
e mil pesos de angustia, mil companheiros
do teu corpo sem um escudo na mil miséria
para defender-se de mil sofrimentos soprados
e espectados entre as mil flechas de sol e da lua.

Noite sem lua e dia sem sol, mil dores
no travesseiro de qualquer raio,
rosto sem mil sorriso coberto de nuvens...
no celeiro do céu do corpo coração estuprado
e erguido por mil pilares de mil esquecimento
da engenharia civil de mil desprezos
entre os mil caminhos da vida e da morte.

Ohhh! Minha Mãe de mil filhos
sem filhos, presente o passado
remoído a cada passo da mente
que morre nos mil passos passados na flecha
de mil dores sem uma morfina,
mil filhos ausentes, mãe.

Minha Mãe de mil filhos
coberta de mil fendas
em festas de mil lágrimas no rosto
de mil velhices vazado
pelo mil vazio de mil solidão,
larreira de mil sorrisos apagada
na planície de mil ausências
e mil acusações de mil filhos,
mil e mil e mil...


Massinga, 28/6/11