sábado, 5 de novembro de 2011

Deixem o Meu Povo Chorar

Deixem o meu povo chorar,
Chorar lágrimas de conjuras
Na fiança de juras entre juras,
Debaixo de injúrias do metical vazio
Sobre chicotes de impostos postos
Ao serviço de limpa-brisas de qualquer humidade
De suor e sangue dos pequenos corpos
Que tombam na sorte de armadilhas
Postas nas lixeiras de empregos
Com pregos que pregam a mendicidade
Do desemprego no véu de promessas.

Nyandayêêêyôôô0uuuuuuuuuuuuuuuu...

Deixem o meu povo chorar
Porque os rostos da verdade
Clamam pelas nossas lágrimas
Que ferimentam adentro
Do alampique, impedido
De destilar a aguardente do teor
Das verdades que verga
Lucidez no povo quando sorve-a
Em liberdade política...

Deixem o meu povo chorar
Nada de fazerem chorar injustamente
Os canos das armas e das leis
Para limpar o meu povo
Povoado de inúmeras injustiças
Que precisa chorar lágrimas
de todas as cores...
Mas deixem o meu povo chorar,
Chorar! Chorar! Chorar...

sábado, 30 de julho de 2011

Minha Identificação (1)

Não tenho outro nome
para além de Cadáver Ambulante Sofrimento,
filho de Nascimento Rejeitado Orfão
e de Abandonada Rejeitada Pos Ventre.
Sou de Nacionalidade Pobreziana
Vivo na cidade das Batalhas, entre as esquinas
das avenidas Labirinto e Vazio, perto do Supermercado Bocaria
onde passo algumas horas a fazer compras...
Trabalho na Empresa Mendicidade desde a Infância.

Meu sonho é ter a vossa Nacionalidade
E um País que me aceite mesmo sem meus progenitores,
porque agora a minha manta rasga-se diariamente
depois de cada golpe da tempestade de vossos discursos de utpoia,
meu estômago ronca em cada refeição de vossas palavras
e o pior, é o meu tecto que desaba sempre que erguem
a primeira pedra no poder da arquitectura dessas hipocrisias...

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Lágrimas da Mãe Africana

Mãe chora
Mundo estremece
Terra negra seca
Sofrimento - a estrada da dor
Sem sinalização competente
Potente de violência de povos inocentes
Que torna mundo insuportável
Até de chamar mundo de uma civilização
Civilizada de bandos de mariginais
Adornados de banhos de sangue
inundando estradas sem alcatrão
No discurso de poder a tiroteio
Corpos detoirando na marcha da vida
Sem vida, polidos de luto
Que mãe chora
Terra seca
E mundo estremece
De tantos males
Que amalam a humanidade
Sem humidade sequer para sobrevivência
Neste reino de espiritos
E deuses sociais e políticos
Em que a única festa de milagre existente
É a dor e sofrimento
Que deixam mãe em banho de lágrimas
Nesta selva da humanidade...
Ohhh, não, mae!
Tua costela tela de mistérios
Rios da tua nascente,
Afluentes de ti
Que desconheces o seu fim
Para além deste fim sem sinalização...
Que te comove limpando as lágrimas
Com o luto ainda a carregar de luto...

Inhambane, 18.03.11

sábado, 2 de julho de 2011

Mil Ausências de Mil Filhos

Ohhh! Minha Mãe de mil filhos
nesta planície de mil fendas abertas
e mil dores presentes, mil solidão em marcha
e mil pesos de angustia, mil companheiros
do teu corpo sem um escudo na mil miséria
para defender-se de mil sofrimentos soprados
e espectados entre as mil flechas de sol e da lua.

Noite sem lua e dia sem sol, mil dores
no travesseiro de qualquer raio,
rosto sem mil sorriso coberto de nuvens...
no celeiro do céu do corpo coração estuprado
e erguido por mil pilares de mil esquecimento
da engenharia civil de mil desprezos
entre os mil caminhos da vida e da morte.

Ohhh! Minha Mãe de mil filhos
sem filhos, presente o passado
remoído a cada passo da mente
que morre nos mil passos passados na flecha
de mil dores sem uma morfina,
mil filhos ausentes, mãe.

Minha Mãe de mil filhos
coberta de mil fendas
em festas de mil lágrimas no rosto
de mil velhices vazado
pelo mil vazio de mil solidão,
larreira de mil sorrisos apagada
na planície de mil ausências
e mil acusações de mil filhos,
mil e mil e mil...


Massinga, 28/6/11

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O Fim

Este vaivém de olhos ao deserto da vida
Dias se passam, a luz se vai e volta (in) consiente
Que o amanhã é outra ponte de passagem
Porque as energias se podem esgotar pelo meio.

Outros avançam. Esperança do outro amanhã, vem
Bagagem entre ombros e cabeça, a dúvida
Que se multiplica a cada sombra do passo,
Velas divinas mortas no hospício da esperança.

O fim. Realeza mente marcha, distância
Peso que tomba entre o chão sem marca
Marcado pela marcha do vaívem dos olhos
Ausência do fim, trevas entre tevas, outro dia.

A ponte permanece na sucessividade dos dias
Porque afinal de contas os dias são a ponte
Que outros (re) atravessam, e outros ainda
Se perdem no percurso do curso da vida.


Inhambane, 23/3/11

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Subúrbio (3)

Avessos corpos nossos ensanguentados
Sem renúncia à morremorrer coercivo da planície...
Com feridas sem morfina para adormentar a dor
Que nem médico existe para examinar ou reanimar
Somente a distância e ausência que curam
Nas profecias políticas e religiosas –Seringas que sugam
Sangue de corpos dominados, em nome de poderosos
Swikwembos doutrinários e ideológicos, reles
À realeza das necessidades de nós, cadáveres ambulantes.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Pegadas de Minhas Heroinas

Badaladas de enxada na terra
Plantio de suor e de sangue
Vezes brota nada além da terra seca
Ó Mulher Moçambicana

Batucadas dos pés na terra
Percusão do xigubo da distância
Ao dedilhar do peso da lata
Ou do molho de lenha na cabeça
Ó Mulher Moçambicana

Balão do ventre soprado
Peso do ar até aos nove meses
Rebenta e pare a carga
Que passa para as costas
Entre a chupa do peito e o calor da mãe
Ó Mulher Moçambicana

Xidjumba de qualquer coisa na cabeça
Longas horas oradas na esteira do chão
Voz embutida na isca de pescar clientes
Em qualquer dumba-nengue ou tchunga-moyo
Crianças que vezes esperam sem pai em casa
Ou sem âmparo de qualquer alimento...
Ó Mulher Moçambicana

Com a coluna destilada na enxada do alambique
No canavial onde aguardente de sangue e suor
Enche as represas da rega
Que fazem crescer a cana-doce
E envenenam a cana-amarga de crianças em casa
Casadas com o desespero de uma mãe
Que não traz o suficiente...
[Ou
Com a coluna que embrulha o sono na rede de pesca
Que nem peixe nem camarão nem lula ou caranguejo
Nada entra na rede se não a distância, o tempo, o sono e a força
Pescados de volta à casa casada com miséria
Ó Mulher Moçambicana


Empilhada no xapa 100
Ou despedaçando qualquer distância
Com saco de livros no ombro
Livrando-se do dia ou da noite
Ao encontro do marido que nunca lhe trai:
A escola, a faculdade, o instituto...enfim a instrução
Ó Mulher Moçambicana


[ou

com o volante do carro nas mãos
Teclado do computador engatado nos dedos
Empenhada na gestão de seu empreendimento
Ou do patrão...
Ó Mulher Moçambicana


Mulher camponesa
Mulher empregada doméstica
Mulher estivadora
Mulher mãe, minha mãe
Mulher esposa
Mulher viúva
Mulher namorada
Mulher empreendedora
Mulher académica
Mulher política
Mulher estudante
Mulher funcionária
Mulher dirigente
Mulher guerreira,
Toda mulher
Ó Mulher Moçambicana
Ó Mulher Moçambicana
Ó Mulher Moçambicana

segunda-feira, 21 de março de 2011

Vinte e Um de Março, Arquitectura das Palavras

A poesia é este movimento antes em silêncio sufocante
Algemado em vozes no hospício de solidão, de dor, de alegria...
Que desamarram palavras – reclusos que invadem papéis
Com espingarda de esferrográfica nos dedos
Adedados na arte de assaltar o vazio do papel

Poetas/Poetisas não temem qualquer espingarda...
Porque a poesia é este diálogo e percepção do vapor das espingardas
Dos estrondos de guerras bélicas
Do movimento penumbrado dos espectros
Da fala dos swikwembos no pacto com os vivos
Do grito vagabundo do mar no vaivém das ondas
Do gemido prazeroso de corpos algemados na planície do amor
Do brilho tédio do vazio de estômagos do povo
Da festa do sol ou do luar
Onde a civilização humana é o epicentro de todas as mudanças
No percurso entre a luz e a escuridão...

A poesia é a fervura do pensamento esquentado no fogo do silêncio
Atiçado pelos estrondos passos de cada civilização humana
Na larreira cujas chamas são as palavras que trepam as escadas de qualquer papel branco
Neste movimento da vida que todos os dias cantamos,
Contamos, degustamos impressões, emoções, paixões, apetites, lágrimas, luto...
Que tornam a vida vivida em cada verso poetizado,
Devendo-se aos poetas – esses operários constructores...,
A honra de toda a arquitectura elaborada
De símples ou complexo, sintetizar cada suspiro vivido ou visto...

Khanimambo a todos mestres da poesia
Que pela arte da alma vivem, morrem
No arteliêr arquitectónico das palavras
Lavrando a terra da vida, replecta de inúmeros mistérios
Que são a inspiração de qualquer poeta/poetisa
Que entre a noite e o sono, o dia e o sol
Divide a cada momento com a enxada da palavra na mão

terça-feira, 15 de março de 2011

Democracia!!!

Se tu fosses produto de venda...todos comprariam -te
Até o pobre povo ao preço de justiça
Nas lojas de liberdade de expressão
Expressa na dignidade humana de um povo...
Povoado de paz mental, estocamacal, habitacional...

Democracia, tú estás democratiranizada...
Nas vozes de locução dos poderfanáticos que te esculpem
E na pele deste povo, repeles-te para democratiracia...
Que perfura os poros, os tímpanos e até os intestinos
À busca de mineraticranias para democrapoliriquezas
Em picaretas de leistiranos incontestáveis...

06.07.09

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Subúrbio (2)

Da rampa da montanha da pobreza alcanço
O lençol freático que encolhe poços sem água
Como as tripas de cadávres ambulantes do subúrbio
Espancados pelo vento da espada da fome
Ou do grito de crianças que baloiçam no peso do vazio...
Lá oiço o eco do grito do martelo
Na empresa empregante de desemprego
Que nem a lei que forma os desempregados
Acode a confusão instalada entre o martelo e a empresa...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Subúrbio (1)

Subo o subúrbio
Desço na rampa da montanha da pobreza
Assobiando a terra com calos dos pés
Calçados de miséria da nudez que beijam o chão
Abraçados às estradas do vazio do alcatrao

Caminho no perfume da imundicie
Ao encontro de esqueléticas casas
Que ainda albergam cadáveres ambulantes
Que fogem coveiros para lhes enterrar
Soterrados pela pobreza que reza
Os tumultos das campas acampadas no meu subúrbio
Que se tornam cartão de visita da ajuda externa
Eternamente sumindo do museu da minha arte...